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Conto n.3

- Não sabe sua idade? - Lembra dos frames ? - Sim... isso de novo! - Devo ser João Víctor com frames para quase 40 anos. - Por que não mais? Ou menos? - Porque é de mim que você precisa agora.                 Para de filmar. - Quer dizer que se eu quisesse você poderia vir com 5 ou 80 anos? - Mais ou menos... - Como assim? - Você não “quer”, digo, “querendo”. É meio que um “precisando”, que vai surgindo na sua cabeça disfarçado de querendo. Entendeu? - Não. E eu não “quis” você aqui! - Não mesmo. Você precisou tanto de mim e aí dentro estava tudo tão confuso que precisei aparecer para você. - Nunca ouvi alguém dizer que já tenha passado por isso... - Bom... não sei explicar... talvez porque você nunca tenha mesmo ouvido falar.                 Olha para o chão. - Eu senti que ia morrer, ou enlouquecer, ou sumir, não sei bem o quê... nunca tive isso antes. E aí você apareceu. - Apareci para conversar com você. - Mas se você fica na minha cabeça, pensa

Conto n.2

- Vou dizer de outra forma: sabe aquela dúvida quando você precisa tomar uma decisão? Eu sou o fim da dúvida, sou quando você decide! - E quando decido errado, é você? - É. E não é ... - É quando acerta e não é quando erra? - Não. Sou e não sou quando você acerta e quando você erra. - Então, pra que você serve? - Sirvo pra que você continue a perguntar e responder, mesmo que ache a resposta errada. - E por que você... quer dizer, eu... nós... por que nós erramos tanto? - Você acha mesmo que nós erramos tanto assim? (Enumerar erros?) - Por que você acha que foram erros? Em vez disso, não seriam passos? - Passos? -Sim, como em uma caminhada. Não gostou? - Achei estranho. - Vou tentar de outro jeito: imagine que sua vida, todo o tempo em que você esteve vivo, fosse um longo rolo de filme antigo – (nota que o menino se perdeu) – você entende o que estou dizendo? - Sim. Isso são frames . Essa coisa de “rolo” é antiga. E você, se sabe as minhas decisões e é mais

Conto n.1

                Ignora a caixa de texto na tela do telefone celular: quem se importa se som alto faz mal aos ouvidos? Desde que não ouça mais uma discussão, que se danem os decibéis! Levanta-se, põe o telefone no bolso e começa a desarrumar a mesa do almoço. Talvez com o jato da torneira batendo nos pratos e copos seus ouvidos ignorem de vez a gritaria que vem do quarto dos pais. Quem fica com o quê? A ladainha de todo dia se resume a disputar quem levará cada item da casa, e quando, em meio à balbúrdia, surge o nome João Víctor, o melhor é enfiar barulho no último volume bem dentro dos ouvidos e cantar acompanhando a música, batucar no tampo da mesa ou no fundo dos pratos, encontrar alguma coisa que ocupe a meia hora entre o último gole de suco descer pela goela e as cerdas da escova de dentes se enfiarem entre os molares e pré-molares das bocas raivosas. É impossível competir com os fones de ouvido estando com a boca cheia de espuma do creme dental.                 Mas é sábado,